domingo, 17 de fevereiro de 2008

Daqui deste banco, olho

Marca passos com muletas
Marca tempos com os pés
Vagaroso.
Os ruidosos motores
As gentes na praça
Os bancos, espaços
Espaços entre as folhas de jornal
E a cultura de ignorar
Discrepâncias.
Relutâncias.
A insalubridade dessas calçadas
Ameaças à dignidade
Indignação.
O desesperador grito silencioso dos olhares famintos sedentos de vida, pão e graça.
A ausência das cores reluzentes da cidade veloz.
Trilhos de metrô uivantes
Enquanto adoçam cafés nessas esquinas.
Adoçam a amargura dos meio-fios de tantas mãos estendidas pedintes
De tantos pés que tocam um chão mais frio, mais cruel, mais sujo.
Que passam manchetes desses dias?
As cores desses times, os pontos desses ônibus de motores ruidosos, ruídos surdos!
A cidade
Inefável sustentar de torres e pilares maleáveis
Concretos cinzas que escondem ou revelam elegias.
Progresso nestes bulevares
Cada vez mais espaço
Cada vez mais arestas molhadas
Cores foscas e ofuscadas
Picolés de saudades, sabores de outros dias.
As bicicletas deste hoje contornam outras esquinas
Os meninos procuram lugares de outrem
Os seus pais não estão ali.
A dança desses dias satura as imagens, fotos.
Esses pés com chinelos
O correr dessas pernas
O reflexo no vidro.
Tanto espaço.
A cidade.
Mais espaço.


Melissa Rocha
Belo Horizonte, 02/07/2007

2 comentários:

Veronica: es ser o no ser? disse...

"O reflexo no vidro"...
Hay que buscar más que reflejos...
Principalmente en los que vienen en el más hondo de lo ojos amados... estaré siempre acá amiga mía...
besos.
Vero

Veronica: es ser o no ser? disse...

"O reflexo no vidro"...
Hay que buscar más que reflejos...
Principalmente en los que vienen en el más hondo de lo ojos amados... estaré siempre acá amiga mía...
besos.
Vero