domingo, 19 de abril de 2009

Das mãos escritoras... À vida vivente.

Deixei de escrever tantas linhas no papel. E passei a escrever outras linhas na vida. Talvez.
Engraçado como sinto falta dessas linhas que, agora passadas a limpo, parecem retas. No papel são sinuosas, talvez porque fecho os olhos quando escrevo coisas ad’intra.
Nem sei exatamente o que importa nisso tudo. Ou se tudo importa. Mas acho que sim... Esse tudo é, senão, a importância de cada coisa.


* * *

Eu continuo encantada pelos gestos de acolhida que a vida nos dá... Gestos que vivificam. Uma mão por sobre a outra. Um abraço de saudade – quantos dias esperei! Um “cheiro” nos cabelos. Um vinho dividido na xícara – porque é em algo assim tão simples que as belezas mais escondidas se revelam. São toques que, de tão belos e carinhosos, fazem soerguer nos poros flores.

Eu nem sei mais quão divinos são esses acontecimentos pequenos, mas tão cheios de vida. Para alguns, são rotineiros. Mas para mim são sinal de graça. Cada gesto revelador de um carinho ímpar é uma ação de graça. Uma doação, um encontro. Sobretudo, um encontro bonito e feliz.

Não me preocupo em estabelecer relações de continuidade nestes parágrafos. Talvez, nem em outros que escreverei, a não ser que sejam textos científicos. Cada parágrafo é um estímulo, uma idéia, uma sinestesia. Diferentes, mas iguais... Mantém a mesma essência, esta que se encontra no fundo dos meus olhos, mesmo quando minhas palavras são avessas, contraditórias, por vezes. Deixo sentir.

* * *

Antes eu precisava escrever para saber como seria viver. Agora, penso: preciso viver para, quem sabe, entender se sei escrever. Porque o texto mais misterioso e encantador a ser escrito é a própria VIDA.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Para que a vida tenha mais força...

Tenho tido preguiça de escrever. E isto é grave, pelo menos para mim. Eu sempre vivi de escrever; é um dos meus melhores dons. Escrever é comunicar-me de forma próxima, sem estar, necessariamente, presente em corpo físico.
Lembro-me das épocas em que semanalmente, religiosamente, eu escrevia uma crônica e publicava-a no blog. Hoje, eu me apropriaria delas mais uma vez. Elas continuam a dizer de mim, e a me dizer. Porque escrever é uma celebração constante de tudo o que sou e fui. E o que ainda haverei de ser.
Escrevo do lugar onde páro e olho. Mesmo parada continuo a movimentar-me. O lugar onde páro e olho é meu ponto de vista. É meu ponto de encontro comigo e desencontro com a hora do dia. Mas é encontro com o tempo.
Eu ainda sou lugar dos poemas que fiz para quem queria conhecer, encontrar. Versos que dediquei ao amor.
Eu voltei a escrever... Para o meu bem e, quem sabe, para o bem dos que se sentem "confortados" ou agraciados por aquilo que escrevo.

Abaixo, um poema que escrevi por decorrência do aniversário de um amigo no mínimo querido:

Porque sou poeta...

Eu não sei de onde vêm os sonhos
Não entendo muito sobre mistérios
Sei apenas sentí-los:
Doce essência
Que só conheço por viver.
Presença afável de Deus
Que se revela em cada linha
Que desenho, percorro, movo, páro, desejo.
Caminhos...
Porque sou poeta, canto
Porque sou poeta, a cada minuto
Desejo, sincero,
Tocar a beleza das coisas...
Porque sou poeta, sou prece
Que a prece realize dentro de mim
E no mundo toda mudança necessária.
Porque sou poeta, amo:
Tudo aquilo que, de dentro de mim,
Exala ternura que vai ao outro
E volta para mim...
Só sonho porque assim sou
Porque a verdade
É capaz de me livertar
Porque a razão 
É capaz de clarear
Porque a vida
Me faz viver.
Amo em tudo quanto faço, 
sofro, 
luto,
vibro,
celebro.
VIVO!

(Melissa Rocha 8/12/2008)

domingo, 10 de agosto de 2008

Tudo há.

Eu decidi subeverter
Transformar todo ponto em discrepância
Todo verbo em vida
Todo incenso em flor.

Todo octógono agora é círculo
E todo cubo é bola
Giram e rodam os sentidos das linhas retas.

Fiz do fogo o descanso
Da tensão... fiz cansaço!
Que a água arde e queima
E transforma na voz o estilhaço.

Do sorriso faço brisa
Do carinho das mãos faço des... alento!
Do pó à massa, passo e junto
Cada tudo de mim
Espalhado por aí.

Feio me soa belo
E até onde alcançam os sentidos de outrem
Encho todos os cantos
Do vigor da poesia que consome e faz viver.

Afinal,
Quanto de mim há em tudo?
E quanto de tudo há em mim?

Melissa Rocha (08/08/08)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A poesia que, agora triste, mesmo assim vai de flor em flor.

Não sei para onde olhar. A espada está tão suja de sangue... Cheia de coágulos que tantas lágrimas ainda não deram conta de limpar.
Sinto-me como um rio represado, numa tensão que corrói suas margens, suas barragens, e atiça seus peixes e toda vida que há em seu leito.
Caminhei tanto, passei por tantos vales sombrios com a espada na mão, lutando bravamente, matando os Orcs. Senti o gosto amargo e o cheiro do sangue deles respingado em meu rosto. Tudo... Tudo eu suportei. Com a espada sempre digna. Porque agi com verdade. Porque fiz do meu coração o escudo.
Sinto que acabei a luta sozinha. Não sei se perdi ou ganhei. Não sei se isso importa.
Meus olhos incham e marejam por não saberem para onde olhar. E os pés doem por não saberem para onde ir. As sandálias têm os solados gastos, os pés estão expostos aos espinhos. As panturrilhas pesam, confessam aos pés cansaço. E os joelhos é que mantêm o corpo, de alguma maneira, sustentado. Mas também com dor. Eu preciso de ajuda para andar. Não consigo caminhar agora. A dor dos joelhos não permite o movimento. Todos os guerreiros passam e dizem: força, continue, você agüenta. Mas nenhum deles me estende os braços para que eu possa iniciar outra caminhada ou prosseguir.
E passam ventos cheios de folhas e ciscos da natureza ali presente, neste outono... Entram nos meus olhos os ciscos. Tornam-os mais vermelhos e caem mais lágrimas. Molham meu pescoço, o peito, caem no chão seco.
Falta comida na bagagem, falta agasalho para o frio que vem, falta querosene para acender o fogo.
Lutei tanto. A luta árdua. Vigorosa. Majestosa. E para nada nem de nada valeu.
Sinto-me derrotada. No momento mais difícil, sozinha. O vento da floresta é frio, seco. Cheio de poeira.
A lua se escondeu com sua luz tímida e não me doa seu brilho. O sol parece não se lembrar de mim. As flores desabrocharam e viraram-se para o outro lado.
Não vejo a luz... Temo o próximo passo. Temo o próximo lugar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Daqui deste banco, olho

Marca passos com muletas
Marca tempos com os pés
Vagaroso.
Os ruidosos motores
As gentes na praça
Os bancos, espaços
Espaços entre as folhas de jornal
E a cultura de ignorar
Discrepâncias.
Relutâncias.
A insalubridade dessas calçadas
Ameaças à dignidade
Indignação.
O desesperador grito silencioso dos olhares famintos sedentos de vida, pão e graça.
A ausência das cores reluzentes da cidade veloz.
Trilhos de metrô uivantes
Enquanto adoçam cafés nessas esquinas.
Adoçam a amargura dos meio-fios de tantas mãos estendidas pedintes
De tantos pés que tocam um chão mais frio, mais cruel, mais sujo.
Que passam manchetes desses dias?
As cores desses times, os pontos desses ônibus de motores ruidosos, ruídos surdos!
A cidade
Inefável sustentar de torres e pilares maleáveis
Concretos cinzas que escondem ou revelam elegias.
Progresso nestes bulevares
Cada vez mais espaço
Cada vez mais arestas molhadas
Cores foscas e ofuscadas
Picolés de saudades, sabores de outros dias.
As bicicletas deste hoje contornam outras esquinas
Os meninos procuram lugares de outrem
Os seus pais não estão ali.
A dança desses dias satura as imagens, fotos.
Esses pés com chinelos
O correr dessas pernas
O reflexo no vidro.
Tanto espaço.
A cidade.
Mais espaço.


Melissa Rocha
Belo Horizonte, 02/07/2007

sábado, 20 de outubro de 2007

Fluem, Con-fluem, Como fluem!

Inicio com o poema que dá nome a este blog, "Confluência".
O blog anterior continua "vivo".
www.meulivrodosdias.zip.net



Confluência


"Pensar na pessoa amada
é como querer ficar à beira d'água...

esperando

que o riacho...

alguma hora


esbarre de correr" (Guimarães Rosa)


É pensar: duas almas, uma única oração

É andar: um encontro, dois corpos, uma fusão

É respirar: um perfume, cheiro de canção

É dançar: passos firmes, uma religião.


Fluir com e para com

Riacho que outro riacho abraça

Correm para o rio:

Desliza pro mar o rio

Navegam no mar sem fim.


A estrada que separa

A proximidade que abarca e une, de fato

As ondas em sintonia

...
fluem

confluem

como fluem!


Nas pontas de cada dedo

Contato vital
Nos braços entrelaçados

A ponte pra chegar até nós.


(Melissa Rocha 19 -10-2007)